Nasci em Ceres, cidade do
interior de Goiás. Meus pais, de origem humilde, mal sabiam ler e escrever.
Moraram na zona rural longos anos. Os meus irmãos mais velhos me contam que meu
pai todos os dias quando chegava da roça, após árduo trabalho sob sol escaldante,
ligava seu velho rádio de pilha para ouvir músicas. Só gostava de ouvir músicas
sertanejas.
E todas as noites, minha mãe,
também cansada das tarefas do lar, se punha a arrumar o simples jantar.
Enquanto isso, meu pai sentava em um banco do lado de fora da casa para ouvir
suas modas sertanejas. Momento esse, em que meus dois irmãos mais velhos brincavam
sob seu olhar atento.
Depois de alguns anos, meus pais
mudaram para a cidade de Ceres, para que os meus irmãos mais velhos pudessem
estudar. E lá, eu nasci e cresci. Passei toda minha infância, adolescência e
fase adulta sempre vendo meu pai ouvindo canções sertanejas em seu inseparável
amigo rádio.
Lembro-me, como se fosse hoje, de
algumas canções que meu pai ouvia. Tinha sempre preferência pelas duplas
sertanejas que cantavam o estilo “raízes” modas de viola ou “modões”. E dentre
as duplas sertanejas de sua preferência estavam: Tonico e Tinoco, João Mineiro
e Marciano, Liu & Léo, Tião Carreiro e Pardinho dentre outras. E é claro;
Milionário & José Rico.
Meu pai, embora não fosse músico
ou entendesse de música, tinha gosto e preferência por estas duplas que mais
tarde, também aprendi a apreciar. Ao longo da minha infância e adolescência, a
convivência diária com a música sertaneja me trouxe igualmente o gosto por
elas. E nas noites de céu estrelado e lua clara, meu pai já não estava mais
sozinho para ouvir o seu rádio. Lá estava eu sentada ao seu lado. Esses
momentos traziam-me muita alegria na companhia do me pai.
Os anos foram passando e eu fui
tomando gosto cada vez mais pelo gênero musical que meus pais tanto ouviam e
apreciavam. Já adulta, tive oportunidade e contato com vários outros estilos
musicais, mas a preferência era aquele que tanto ouvi na infância e na
adolescência: o Sertanejo.
Os anos passaram e novas duplas
foram surgindo. Mas o meu gosto sempre esteve voltado para as duplas sertanejas
mais antigas e experientes. Uma delas que sempre gostava de ouvir era
Milionário & José Rico. Ah! Como eu ouvi: Jogo do amor, De longe também se
ama, O tropeiro, Amor dividido e Estrada da vida.
Infelizmente, a vida nos impõe
mudanças a todo o momento. Mudanças que chegam até nós e temos que ser capazes
de, se não de entendê-las, ao menos aceita-las.
Era domingo à noite, dia primeiro
de março de 2015, quando recebi um vídeo gravado pelo então cantor José Rico da
dupla Milionário & José Rico enviado por um amigo. No vídeo, José Rico
falava para a dupla goiana Marques e Marçal, desejando a eles muita sorte e
muito sucesso. Essa dupla sertaneja era muito conhecida e querida por ele.
Cantam num estilo muito parecido com Milionário & José Rico. Esse carinho
não veio por acaso. José Rico conhecia bem o Marçal da dupla Marques e Marçal
desde os tempos em que em São Paulo, Marçal cantava como forma de abertura nos
momentos que antecedia seus shows.
Mal sabia eu e as demais pessoas,
que aquele seria o seu último vídeo a ser gravado. Prestígio para a dupla
Marques e Marçal por poderem contar com o carinho dele e também por ser o
último vídeo e exatamente para eles. Ao mesmo tempo, dois dias depois seria
motivo de muita tristeza para eles e para o Brasil.
No dia 3 de março de 2015, foi
anunciado o falecimento de José Rico, da dupla Milionário & José Rico. A
dupla Marques e Marçal (meus amigos) e eu, recebemos a triste notícia de seu
falecimento através das redes sociais. O Brasil ficou mais pobre de cultura e a
música sertaneja perdeu um de seus ícones.
A ver em rede nacional, o quanto
José Rico era querido, fiquei reflexiva. Percebi que os dias passam de forma
rápida. Implacavelmente rápido, passa a vida. É preciso viver “como se não
houve o amanhã”. E assim creio eu, que José Rico viveu, pois passou a maior
parte de vida cantando e encantando. “E o final da corrida chegou…” Chegou para
ele, para meu saudoso pai, de quem tenho muitas saudades e um dia chegará para
todos nós.
Verdade temos que viver o hoje, o agora, sem medo de sermos felizes, esta vida é passageira, todos temos um propósito aqui. Temos que viver a vida como se não houvesse o amanhã!
ResponderExcluirAs coisas que nos marcam na infância , seguem conosco pelo resto de nossa vida e delas muito nos orgulhamos.
ResponderExcluirParabéns pelo lindo e emotivo texto !