17/07/2025
A DESCONEXÃO DESEJADA
Guerreiro da infantaria por anos e na lida do colégio militar, foi um grande combatente. Desde sempre, nutria outros sonhos, outros desejos. Hoje advogado e professor universitário vive sempre conectado. O seu mundo é onde o celular não é apenas uma ferramenta — é uma extensão do seu corpo. A semana é uma constante de compromissos, prazos, dúvidas jurídicas, provas, clientes desesperados o achando o salvador da pátria. É grupo de WhatsApp fervendo com urgências de última hora, trabalhos corrigidos à meia-noite e mensagens que não respeitam o relógio — ou a alma. A tela do seu celular acesa virou uma fogueira de São João, ao redor da qual, gira sua rotina e sua vida.
Às sextas-feiras, ao final do expediente, ele sente um breve arrepio de desejo. Não é desejo de vinho, de viagem ou de festa. É outro tipo de sede: a de não ter compromisso especificamente virtual já que as demandas existem também nos finais de semana. O desejo é o do silêncio para desfrutar do prazer da sua própria companhia, quiçá com uma companhia especial.
Em silêncio, quase como quem teme dizer em voz alta para si e para o mundo, ele sonha com o dia em que poderá desligar o celular na sexta-feira e só religá-lo na segunda. Deseja a ausência da luz que ofusca sua visão. Deseja sem peso na consciência, desfrutar da leveza da ausência dos problemas que chegam pela sua tela diariamente. Ousadia? Não, claro que não.
Pensa nisso como quem planeja uma viagem rara, um destino exótico: o fim de semana desconectado. Sem notificações, sem chamadas fora de hora, sem aquele zumbido invisível da obrigação. Só o tempo desnudo. O tempo real. O tempo desejado com qualidade para si e sua parceira.
Em seu desejo de desconexão, ele se vê como quem abrindo um livro — daqueles sem vínculos com nenhuma prova ou petição. Sente o cheiro do café e do pão de queijo fresquinho que acabou de sair do forno. Imagina e até ouve o barulho da chuva batendo na janela. Com sentimento de libertação ouve o riso solto de alguém que ama.
Não é sobre o sonho de parar de trabalhar. É sobre ter direito ao intervalo, ao descanso e uma vida de reconexão consigo mesmo. É sobre merecer o repouso sem aflição, sem culpa. É sobre não ser necessário estar conectado com um mundo profissional por 48 horas e assim, tudo ainda continuar bem.
Esse momento ainda não chegou. Mas a cada sexta-feira que sobrevive em meio ao caos, ele planta uma sementinha desse desejo. E um dia, quem sabe, ele não apenas desligará o celular. Ele o guardará, com prazer, sabendo que o mundo pode esperar para segunda-feira ou quem sabe, para daqui uma semana e, finalmente, poder desfrutar desse desejo já plantado em seu coração. O melhor está por vir.
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